Afegãos desesperados vendem seus rins para alimentar suas famílias

Na área conhecida como “vila de um rim”, pais estão vendendo seus rins por apenas US$ 1.500 (cerca de R$ 7.650).

Um número cada vez maior de pais no Afeganistão está disposto a sacrificar um órgão para alimentar seus filhos, segundo um relatório da AFP publicado na segunda-feira (28).

A prática se espalhou na cidade de Herat, no oeste do país, a ponto de uma comunidade ser apelidada de “vila de um rim”.

“Eu tive que fazer isso pelo bem dos meus filhos”, disse Nooruddin à AFP em Herat, perto da fronteira com o Irã. “Eu não tinha outra opção”, concluiu o pai, que está desempregado e endividado.

O Afeganistão mergulhou em uma profunda crise financeira após a tomada do Talibã, piorando uma situação humanitária que já era difícil após décadas de guerra. A ajuda externa que antes sustentava o país tem demorado a chegar, enquanto islamitas mais extremos têm cortado ativos afegãos mantidos no exterior.

O efeito da economia do gotejamento — que geralmente favorece os ricos — prejudicou afegãos como Nooruddin, de 32 anos, que deixou seu emprego na fábrica quando seu salário foi reduzido para 3.000 afeganis (cerca de R$ 167) logo após o retorno do Talibã,

Ele acreditou que encontraria algo melhor, mas, com centenas de milhares de desempregados em todo o país, não havia mais nada disponível.

Em desespero, ele vendeu um rim como uma solução de curto prazo. “Eu me arrependo agora”, desabafou. “Não posso mais trabalhar. Estou com dor e não consigo levantar nada pesado.”

Sua família agora depende de seu filho de 12 anos para ganhar dinheiro, que engraxa sapatos por 70 centavos por dia.

Um rim por US$ 1.500

Noorudin estava entre as oito pessoas com quem a AFP conversou, que venderam um rim para alimentar suas famílias ou pagar dívidas. Algumas delas fizeram a venda por apenas US$ 1.500 (cerca de R$ 7.650).

Vender ou comprar órgãos é ilegal na maioria dos países desenvolvidos, onde os doadores geralmente são parentes do receptor ou pessoas que agem por altruísmo. No Afeganistão, no entanto, a prática não é regulamentada.

“Não há lei para controlar como os órgãos podem ser doados ou vendidos, mas o consentimento do doador é necessário”, disse o professor Mohammad Wakil Matin, ex-cirurgião de um hospital na cidade de Mazar-i-Sharif, no norte do país.

Os afegãos desesperados por dinheiro geralmente são acompanhados por corretores com pacientes ricos, que viajam para Herat de todo o país — e às vezes até da Índia e do Paquistão.

Além de pagar pela venda do rim, o receptor paga as taxas hospitalares.

A família de Azyta tinha tão pouca comida que dois de seus três filhos foram tratados recentemente por desnutrição. Ela sentiu que não tinha escolha a não ser vender um órgão. Um corretor combinou com ela a venda para um receptor da província de Nimroz, no sul.


Mãe afegã chora com o filho no colo. (Foto: SkyNews/YouTube)

“Vendi meu rim por 250.000 afegãos (cerca de US$ 2.500)”, disse ela de seu pequeno quarto. “Tive que fazer isso. Meu marido não está trabalhando, temos dívidas.”

Agora seu marido, um diarista, planeja fazer o mesmo. “As pessoas ficaram mais pobres”, disse ele. “Muitas pessoas estão vendendo seus rins por desespero.”

Vila de um rim

Nos arredores de Herat fica Sayshanba Bazaar, um vilarejo formado por centenas de pessoas deslocadas devido aos conflitos. Conhecida como “vila de um rim”, dezenas de moradores venderam seus órgãos após informações sobre a prática se espalharem.

Cinco irmãos da mesma família venderam um rim cada um nos últimos quatro anos, pensando que isso os salvaria da pobreza. “Ainda estamos endividados e tão pobres quanto antes”, disse Ghulam Nebi, exibindo sua cicatriz.

Nos países desenvolvidos, os doadores e receptores geralmente levam uma vida normal, mas sua saúde pós-operatória geralmente é monitorada de perto — e também depende de um estilo de vida e dieta equilibrados.

Esse luxo muitas vezes não está disponível para os afegãos pobres que vendem um rim e ainda se encontram presos na pobreza, e às vezes com problemas de saúde.

Shakila, mãe de dois filhos já aos 19 anos, passou pelo procedimento pouco antes do Talibã tomar o poder. “Não tivemos escolha por causa da fome”, disse ela, que vendeu seu rim por US$ 1.500. A maior parte do dinheiro foi usada para pagar a dívida da família.

Aziza, mãe de três filhos, está esperando sua oportunidade, depois de conhecer um funcionário do hospital que está tentando combinar a venda com um doador.

“Meus filhos vagam pelas ruas mendigando”, disse ela à AFP, com lágrimas nos olhos. “Se eu não vender meu rim, serei forçada a vender minha filha de um ano.”

 

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DA AFP

 

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