Covid-19: cepa indiana ameaça tornar pior a terceira onda no Brasil

Ministério diz estar preocupado com a inversão da curva de infeções pela covid-19, que voltou a mostrar crescimento, pressionando o sistema de saúde. Para deixar a situação mais grave, já são sete os casos registrados da variante do novo coronavírus vinda do exterior

O governo federal está diante de três grandes preocupações: a possibilidade de uma terceira onda da pandemia do novo coronavírus, como admitiu, ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o que levaria à necessidade de ação de restrições por parte dos municípios para conter o avanço da doença; o avanço da cepa indiana, que depois do Maranhão e do Ceará, transitou por São Paulo e pelo Rio de Janeiro; e a hipótese de essa nova mutação do vírus piorar a terceira onda, seja pela velocidade de infecção ou por tornar o agente infeccioso ainda mais agressivo e letal.

Ao todo, são sete os registros da nova variante no Brasil: seis de um navio chinês que está fundeado na Baia de São Marcos, no Maranhão, e o passageiro vindo da Índia que entrou no país pelo aeroporto de Guarulhos e está isolado em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. “A terceira onda é uma preocupação. Assistimos, agora, a uma redução da tendência de queda de óbitos. Isso pode ser resultado da flexibilização das medidas de bloqueio. Quando se abre, naturalmente surgem novos casos. Se essa tendência é desmesurada, vai ter uma nova pressão ao sistema de saúde, que posteriormente se reflete em óbitos. Mas também pode ser fruto de uma variante e ainda não temos essa resposta”, explicou Queiroga, em audiência pública na Câmara dos Deputados.

 (crédito: Nelson Almeida/AFP - 29/4/21 )
(crédito: Nelson Almeida/AFP – 29/4/21 )

De acordo com Julio Croda, médico infectologista e pesquisador da Fiocruz, a tendência de uma terceira onda se deve, em grande parte, à flexibilização das medidas restritivas mesmo com taxas de ocupações hospitalares altas: “A flexibilização não veio em um momento oportuno, já que a maioria dos estados apresentava a taxa de ocupação acima de 80%”, observou. Para Croda, a cepa indiana também pode ser um agravante “É mais transmissível e apresenta uma resposta autoimune maior. Por isso, pode rapidamente se tornar predominante no Brasil”, previu.

Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), compartilha da preocupação em relação à variante indiana. “Uma pessoa que pega essa variante tem mais chances de transmitir a doença do que uma que pegou o vírus original. Estamos estudando se essa variante pode levar a casos mais graves se comparada com o vírus original”, afirmou.

Recrudescimento

O novo Boletim do Observatório Covid-19, elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e divulgado ontem, alerta para o recrudescimento da pandemia nas próximas semanas. Mostra que houve um aumento das taxas de incidência de casos novos da covid-19 entre 16 e 22 de maio. “O aumento no número de internações, demonstrado pelo novo aumento das taxas de ocupação dos leitos de UTI é resultado desse novo quadro da pandemia no Brasil”, ressalta o boletim.

O boletim da Fiocruz mostra, também, que, entre os dias 17 e 24 de maio de 2021, as taxas de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) de covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram ou se mantiveram estáveis, em níveis elevados, em praticamente todo o Brasil. Isso reforçaria a avaliação de que a tendência de queda, que vinha sendo observada até por volta do dia 10 deste mês, se interrompeu.

O Brasil registrou, ontem, 2.398 mortes causados pela covid-19, de acordo com os dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) — totalizando 454.429 óbitos. O levantamento, que compila dados de secretarias de Saúde dos 26 estados e do Distrito Federal, apontou ainda 80.486 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas, com um total de 16.274.695 registros desde o início da pandemia.

Coronel é exonerado

O governo federal exonerou, ontem, George da Silva Divério do cargo de Superintendente Estadual do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro. Coronel do Exército, em novembro do ano passado ele assinou contratos de R$ 29 milhões com duas empresas, sem licitação, para fazer reformas em prédios da pasta no estado, em plena pandemia. As obras foram consideradas urgentes, por isso a licitação foi dispensada. Depois de assinados, os contratos foram anulados pela Advocacia-Geral da União (AGU), que não constatou razão para a dispensa de licitação.

Divério foi nomeado em junho de 2020 pelo então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Por se tratar de cargo DAS 5, a exoneração do coronel foi assinada pela Casa Civil da Presidência e está publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Recentemente, o vice-presidente da CPI da Covid do Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que existe a possibilidade de a comissão pedir a quebra de sigilo bancário de empresas e citou como exemplo o caso das companhias que reformariam imóveis do Ministério da Saúde no Rio, sob orientação de Divério.

De acordo com Randolfe, esses fatos “não esclarecidos” precisarão ser abordados pelo colegiado. O senador também criticou o valor dos contratos. Segundo ele, o valor representaria 750 mil doses de vacina contra covid-19.

Caminhoneiros cobram vacinação

 (crédito: Tomaz Silva/Agencia Brasil)
crédito: Tomaz Silva/Agencia Brasil

Os caminhoneiros continuam à espera da inclusão da categoria entre os grupos prioritários para a vacinação contra a covid-19. Em março, entidades que os representam remeteram carta ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cobrando a imunização para um grupo de trabalhadores que está na linha de frente da economia, sobretudo porque boa parte da produção brasileira é escoada pelas rodovias. Mas, até agora, não obtiveram uma resposta ao pleito, apesar de parte da categoria ser apoiadora do governo.

Wallace Landim, o Chorão, presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava) não entende a razão da demora. “Os caminhoneiros carregam grãos, fertilizantes, estamos em contato com as pessoas do porto, com o pessoal que vem de fora. Estamos preocupados e cobrando o governo. Ficamos felizes pelos portuários, que receberão a vacina, mas também fazemos parte dessa cadeia”, lembrou.

De acordo com Chorão, a previsão é de que os caminhoneiros somente sejam submetidos à vacinação no final do terceiro trimestre — ou no começo do quarto. “Estamos incomodados com a previsão que só vamos nos vacinar depois de setembro e diversos outros grupos estão na nossa frente. Nós trabalhamos para nunca deixar faltar insumos hospitalares que chegam ao país, nós nunca paramos”, desabafa.

Antepenúltimos

Segundo o Ministério da Saúde, a categoria será a 27ª a receber a vacina, das 29 incluídas no grupo prioritário no Plano Anual de Operacionalização de Vacinação contra a Covid-19 (PNO). Aproximadamente 72,2 milhões de brasileiros estão nessa condição, o que representa quase 36% da população do país e inclui idosos, comorbidades, professores e gestantes.

Já o presidente do Sindicato de Caminhoneiros de Ourinhos (Sindicam), Ariovaldo de Almeida Silva, ameniza as críticas de Chorão e defende que a vacinação dos caminhoneiros deve ser responsabilidade não apenas do governo federal, mas também de estados e municípios. “O governo tem sido muito solícito com os caminhoneiros. Nós entendemos que existem representações mais fortes do que as nossas e que ainda não conseguimos a vacina por questões logísticas. Estamos nos esforçando na interlocução com o governo federal e os estados para nos vacinarmos. Até porque não tem nenhum ponto no meio das estradas para vacinar os caminhoneiros, o que deverá ser feito nos municípios”, explicou.

O PNO organiza os grupos prioritários para a vacinação. “Foram definidos conjuntamente com as áreas técnicas do Ministério da Saúde e colaboradores no âmbito da Câmara Técnica Assessora, estabelecendo os critérios a serem adotados por ocasião da vacinação, conforme quadro 3. Nesse cenário, os grupos de maior risco para agravamento e óbito, caso venham a se infectar, devem ser priorizados”, salienta. (Com GC)

Gabriela Chabalgoity e Gabriela Bernardes, Correio Braziliense

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