Eventos climáticos de todos os tipos batem recordes desde 2023, afirma especialista
Os eventos climáticos extremos vão ser cada vez mais frequentes por causa do aquecimento da Terra, segundo cientistas do mundo inteiro. Mais do que frear as emissões dos gases do efeito estufa, é preciso investir em prevenção.
Datas, locais, consequências diferentes, mas tudo igualmente desesperador. Recentemente, teve até inundação em área de deserto, como Dubai. Só muda o endereço, ou nem isso: o desastre atual no Rio Grande do Sul ampliou o que já tinha sido uma tragédia, em setembro passado, no Vale do Rio Taquari, quando 54 pessoas morreram nas enchentes. Agora, o número de vítimas no estado já é mais que o dobro, além de ser um alerta de que cenas como essas serão cada vez mais comuns.
A sentença é dada por um dos maiores cientistas brasileiros, o climatologista Carlos Nobre, que se baseia na própria sequência dos acontecimentos. “Principalmente em 2023 e 2024, nós estamos batendo os recordes de todos os tipos de eventos climáticos extremos. Fenômenos que antes aconteciam muito raramente, hoje acontecem com muito mais frequência e também batendo recordes”, diz o especialista.
O que muda a frequência e a intensidade desses eventos climáticos extremos é a elevação da temperatura do planeta. O mundo está 1,5 grau mais quente do que há 170 anos, o que esquenta as águas do oceano, provoca maior evaporação e, consequentemente, mais chuva.
A culpa, no entanto, não é da natureza. São os seres-humanos que se tornam responsáveis pelas tragédias ao derrubarem florestas, queimarem combustíveis fósseis, removerem vegetação nas encostas, margens dos rios, nas cidades. Todos esses acontecimentos pressionam a temperatura. “A ciência mostra que ela vai atingir 1,5 grau permanentemente até 2030, e se a gente continuar com a emissão de gases de efeito estufa, pode atingir 2,5 graus em 2050. Todos esses fenômenos vão explodir”, complementa o climatologista.
Caso não seja possível reverter o estrago já feito, é preciso ao menos prevenir que os eventos meteorológicos futuros provoquem tanta dor e morte. “Todas as cidades brasileiras com risco de inundações e deslizamentos, enxurradas têm que ter um sistema de alarme com sirenes no Brasil, como é o Japão para terremotos”, reforça Carlos.
Petrópolis, no Rio de Janeiro, já tem. E não é à toa. Foi na Região Serrana do Rio que aconteceu o maior desastre ambiental da história do país, com quase 950 mortos. Em São Sebastião, no litoral paulista, as sirenes foram acionadas há dois meses, um ano depois da chuva devastar vários bairros do município, matar 64 pessoas e transformar uma das paisagens mais belas do país em um cenário apocalíptico.
No entanto, estima-se que para 4 milhões de brasileiros, só sirenes já não bastam, porque vivem em áreas de altíssimo risco. É preciso removê-los. “A maioria dessas pessoas são pobres, não têm condições econômicas para sair dali, e essas áreas todas, encostas, têm que ser reflorestadas, as margens desses rios todos reflorestadas. Se todos esses rios ali no Rio Grande do Sul tivessem mantido as florestas nas margens dos rios, quando aquela chuva toda cai, corre para os rios, mas muita árvore faz o solo absorver muita água”, afirma o climatologista.
Um evento como o do estado gaúcho tem que ser entendido como um recado direto aos que têm o poder e o dever de cuidar da população. Nobre critica que a enchente no Sul, no ano passado, não tenha sido suficiente para o sistema político brasileiro entender os riscos do descontrole ambiental.
“Foi uma falha, porque neste governo, o Ministério do Meio Ambiente passou a se chamar Meio Ambiente e Mudança do Clima. Havia aquela proposta da ministra Marina Silva de criar a autoridade climática; a maioria dos países tem autoridades climáticas, são pessoas com grande poder político, de negociações, de convencimento, e o Brasil estava indo na direção correta, mas houve esse atraso”, afirma o especialista, que questionado sobre os motivos possíveis do atraso, pontua o papel dos deputados.
“Os deputados no Congresso seguraram. É o lobby de quem? Quem não deixa passar uma proposta como essa? Dentro do Congresso brasileiro, o setor da agricultura, quando se tentou criar a autoridade climática e outras medidas para baixar as emissões, o setor se manifestou contra”, afirma.
Não é burocracia, é o dia a dia da população. A falta de medidas de controle, mesmo em ambientes que parecem longe, implicam na qualidade de vida de todo o planeta. “Durante a covid, a ciência mostrou o risco de desmatar as florestas tropicais; o risco de pandemia e epidemia é gigantesco”, relembra o climatologista. “O aquecimento global está fazendo a malária chegar até no sul da Europa e nos Estados Unidos, porque os mosquitos que transmitem, eles não viviam em climas frios como aqueles, mas agora estão começando a aparecer”, complementa.
“Estou torcendo muito para a gente começar a eleger vereadores e prefeitos, e depois, em 2026, deputados, senadores, governadores, presidente que coloquem isso como uma grande prioridade que o Brasil precisa vencer”, finaliza.
Fonte: Sbt News
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