Ministra do Turismo contratou funcionários de prefeitura administrada pelo marido

Servidores foram empregados durante as eleições de 2022, quando Daniela do Waguinho concorreu e foi eleita para a Câmara

A ministra do Turismo, Daniela do Waguinho (União Brasil-RJ), empregou diversos funcionários da Prefeitura de Belford Roxo (RJ), administrada por seu marido, Waguinho (União Brasil-RJ), durante as eleições de 2022.

Daniela concorreu e foi eleita para uma vaga na Câmara dos Deputados pelo Rio de Janeiro. No período de campanha eleitoral, a fluminense empregou Renata Santos Rosado de Almeida, Brenda Oliveira de Souza, Luiz Felipe de Freitas e Lucas da Silva Coutinho. Entre os serviços prestados estão contábeis, advocatícios e financeiros.

A reportagem do R7 apurou que todos os contratados por Daniela são funcionários de Belford Roxo e, durante o tempo em que trabalharam com a então candidata nas eleições, também recebiam salário da administração municipal, segundo o Portal da Transparência.

Procuradas, a ministra do Turismo e a Prefeitura de Belford Roxo não se pronunciaram. O espaço está aberto para manifestação.

Conheça, abaixo, os funcionários de Daniela e de Belford Roxo:

Renata Santos Rosado de Almeida:

Entrou na Prefeitura de Belford Roxo como assessora administrativa, com salário de R$ 788, em 2015. No ano passado, atuou como chefe de gabinete do prefeito da cidade, o Waguinho, marido da ministra do Turismo, com salário de R$ 9.800. Ela recebeu R$ 30 mil pelos serviços prestados na eleição, e o contrato vigorou de 9/9 a 1/10.

Brenda Oliveira de Souza:

Entrou na Prefeitura de Belford Roxo como assessora de gabinete, com salário de R$ 1.200, em 2019. No ano passado, atuou como consultora jurídica na Procuradoria-Geral do Município, com salário de R$ 3.200. Ela recebeu R$ 50 mil pelos serviços prestados na eleição, e o contrato vigorou de 16/8 até a primeira prestação de contas (de 9 a 13 de setembro).

Luiz Felipe de Freitas:
Entrou na Prefeitura de Belford Roxo como inspetor de disciplina da Secretaria Municipal de Educação, com salário de R$ 1.100, em 2021. No ano passado, atuou no mesmo cargo e na mesma pasta, mas com salário de R$ 1.212. Ele recebeu R$ 10 mil pelos serviços prestados na eleição, e o contrato vigorou de 9/9 a 1/10.

Lucas da Silva Coutinho:
Entrou na Prefeitura de Belford Roxo como subprocurador, na Procuradoria-Geral do Município, com salário de R$ 4.000, em 2020. No ano passado, atuou como subsecretário de assuntos jurídicos, na Secretaria Municipal de Saúde, com salário de R$ 4.500. Ele recebeu R$ 10 mil pelos serviços prestados na eleição, e o contrato vigorou de 16/8 a 1/11.

Gráficas

A ministra do Turismo gastou mais de R$ 1 milhão em duas gráficas durante a última campanha eleitoral para a Câmara dos Deputados. Os endereços registrados, no entanto, correspondem a outros estabelecimentos, o que sugere que as empresas fossem “fantasmas”. Ela afirma que os serviços foram prestados e que divergências dos dados apresentados à Receita Federal não são responsabilidade dela.

Daniela gastou R$ 561 mil na Rubra Editora e Gráfica Ltda. — o que corresponde a 18% desse tipo de despesa — e R$ 530 mil na Printing Midia Ltda. — cerca de 17%. As informações foram prestadas pela então candidata ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O dono da Rubra Editora e da Printing Midia é Filipe de Souza Pegado. A primeira empresa foi fundada em 2013, na cidade do Rio de Janeiro, e tem como atividade principal a edição de livros. Já a segunda companhia foi fundada em 2020, em São João de Meriti, na região metropolitana do Rio, e tem como principal atividade a impressão de material.

Ligação com milícia

A ministra do Turismo é ligada à família de Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado por chefiar uma milícia na Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Conhecida como Daniela do Waguinho, ela se reelegeu deputada federal pelo União Brasil nas eleições do ano passado e assumiu a pasta do Turismo no dia 2 de janeiro.

Jura é ex-sargento da Polícia Militar e foi condenado a 22 anos de prisão pelos crimes de homicídio e associação criminosa. Ele já cumpriu cerca de 15 anos. A ministra do Turismo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é casada com Waguinho, prefeito de Belford Roxo (RJ) e presidente estadual do União Brasil no Rio de Janeiro.

Daniela é próxima da esposa de Jura, conhecida como Giane Jura, ex-vereadora de Nova Iguaçu (RJ). Nas redes sociais de Giane, há vários registros de Daniela e Waguinho, inclusive em eventos com Lula, como a caminhada “Elas fazem o L pela democracia”, ocorrida em 27 de outubro de 2022, em Belford Roxo.

Giane declarou apoio a Daniela em agosto do ano passado e pedia votos com frequência para a agora ministra. A esposa de Jura também fez campanha para Daniela em 2018, quando ambas apoiaram o então candidato Jair Bolsonaro (PL), à época no PSL. Jura participou dos eventos em apoio a Daniela naquele ano.

Escritório com valor acima da média

Daniela ainda usou dinheiro público para alugar um escritório pelo qual pagava um valor aproximadamente três vezes maior do que a média cobrada nos imóveis da região. Em quatro anos, foram gastos por ela R$ 141 mil com aluguel em Belford Roxo (RJ). A despesa foi paga pela Câmara dos Deputados.

O município do Rio de Janeiro é reduto eleitoral de Daniela, que alugou a casa de cinco cômodos em abril de 2019 para transformá-la em escritório de apoio à atividade parlamentar. O R7 pesquisou o preço dos aluguéis na região e descobriu que o valor cobrado por um imóvel com o mesmo tamanho e na mesma região custa, em média, entre R$ 1.100 e R$ 1.700. No entanto, até outubro do ano passado, a ministra, então como deputada, pagava aluguel mensal de R$ 3.700. O dinheiro era ressarcido pela Câmara.

A reportagem teve acesso aos documentos de prestação de contas. O valor pago inicialmente foi de R$ 3.000 por mês. Em maio de 2021, subiu para R$ 3.500. Em maio de 2022, o aluguel passou por novo reajuste e aumentou para R$ 3.700. Daniela ainda pagou o IPTU dos anos de 2021 e 2022.

Fonte: Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

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