Tony Trindade é suspeito de monitorar investigação e orientar depoimentos, afirma a PF

Polícia Federal detalha, em coletiva, ações que levaram à prisão do jornalista na Operação Acesso Negado.

Por Apoliana Oliveira/180graus

Em entrevista coletiva virtual na manhã desta terça-feira (18/08), a Polícia Federal deu detalhes sobre a Operação Acesso Negado, deflagrada mais cedo, que levou à prisão do jornalista Tony Trindade. A ação é um desdobramento da Operação Delivery, deflagrada em maio, que investiga desvio de recursos públicos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), destinado ao município de União (PI).

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Manipulação de testemunhas

A delegada Mariana Paranhos, superintendente da Polícia Federal no Piauí, explicou os desdobramentos que levaram à operação de hoje.

“A investigação mostrou que cada etapa da Operação Delivery foi monitorada pelo grupo criminoso, que conseguia acessar com antecedência informações sigilosas no processo judicial e compartilhava com os interessados, antecipando-se às medidas judiciais a serem executadas. Eles também manipulavam as testemunhas para haver a convergência de versões a serem apresentadas à Justiça. Se envolviam em estratégias para intimidar os atores da investigação”, disse.

Segundo ela, além do jornalista, é investigada a participação de advogados e de investigados na Operação Delivery, beneficiários destas estratégias “intimidatórias”, conduta classificada pela delegada como “grave”. “Esse vazamento de informações sigilosas coloca em risco não apenas a investigação policial, ou o processo judicial, mas ele também coloca em risco a vida e a integridade dos envolvidos em cada uma das etapas da investigação, e por isso deve ser fortemente coibido”, completa.

    Captura de tela da coletiva com a Polícia Federal

Tentativas de interferência

O chefe da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros, delegado Allan Reis de Almeida, que coordenou a operação, conta que na análise do material apreendido na Operação Delivery, foi possível identificar tentativas de “interferência e embaraçamento” à investigação.

A primeira tentativa, relata, ocorreu após a apreensão de R$ 379 mil em espécie, no dia 1º de maio de 2020, em veículo alugado pela prefeitura de União. O dinheiro estava com dois funcionários municipais que não esclareceram a origem dos valores. Nesta data, um vereador de União tentou realizar a liberação desta importância de forma indevida.

Sobre o jornalista, o delegado mencionou o “monitoramento indevido e ilegal das investigações”, a realização de “encontros obscuros no intuito de obter informações sigilosas”, além do “acesso indevido a processos judiciais sigilosos”.

Sítio do jornalista em Monsenhor Gil foi um dos alvos da busca e apreensão
Sítio do jornalista em Monsenhor Gil foi um dos alvos da busca e apreensão    Imagem: Divulgação/PF

“Atos intimidatórios”

“Esse jornalista estava monitorando a investigação e obtendo informações de caráter sigiloso, tendo acesso ao processo, orientando um dos investigados para que se reunisse com testemunhas e outros investigados para que apresentassem depoimentos convergentes, o que demonstra claramente a intenção de manipular possíveis provas a serem juntadas no inquéritos. Ele [jornalista] fala, durante material arrecadado, em atos intimidatórios. É uma palavra forte de você falar, que vai realizar atos intimidatórios, no intuito de minimizar a repercussão das investigações. A investigação ainda vai tentar identificar que atos intimidatórios eram esses, se eram atos para intimidar a polícia, a população, isso deve ser esclarecido ainda”, narra Allan Reis.

“Não foi um ato pontual”

A PF nega que a ação de hoje tenha intuito de tolher o acesso do jornalista ou de qualquer profissional de imprensa a informações. “Ele não foi preso por apresentar informações na condição de jornalista, muito menos na condição de assessor do prefeito de União, até porque ele não é assessor do prefeito. Mas ele foi preso pelos fatos que já coloquei anteriormente. Você não pode estar acessando processo judicial sigiloso, não pode estar se encontrando com funcionários públicos no intuito de obter informações sigilosas. E o quanto ao servidor público, um dos vazios da investigação é identificar essa pessoa e, identificada, ela será punida da mesma forma. Não foi um ato pontual que ocorreu, a reiteração do monitoramento de uma investigação policial, conjugado com o acesso indevido a um processo judicial sigiloso, o fato de estar se encontrando com investigados e testemunhas, no intuito de apresentar depoimentos convergentes, todos esses atos são gravíssimos”, explica o delegado.

 

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