Advogada recebe ataques de motoristas por campanha da OAB-PI

A advogada piauiense Alba Vilanova recebeu, nos últimos dias, ataques e intimidações de homens que se identificaram como motoristas de carros por aplicativos de Curitiba, Paraná. Os ataques se devem a uma campanha promovida pela Comissão de Apoio às Vítimas de Violência da OAB- Piauí (CAVV), da qual ela é presidente. A campanha dá orientações de segurança para mulheres em transportes por aplicativos e acabou repercutindo em outras regiões do país. 

Motoristas insatisfeitos conseguiram o telefone pessoal de Alba Vilanova e iniciaram o contato no último sábado, 21. De acordo com a advogada, os ataques só cessaram na segunda-feira, 23. Um dos homens disse que conseguiu o telefone da advogada com a própria OAB-PI (Ordem dos Advogados do Brasil).  De acordo com a advogada, a informação está sendo apurada. 

Veja os prints

 
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Além de terem a intenção de repudiar e intimidar a advogada e criticar a profissão de advocacia, uma das mensagens têm conteúdo xenófobico. 

“Eu recebi ainda mais mensagens desse tipo no fim de semana, mas apaguei porque não pensei que fossem persistir. Eles acham que podem ficar mandando mensagens, intimidando. Se você observar, ninguém se reportou à OAB enquanto instituição ou procurou o telefone do presidente da OAB, que é homem. É mais fácil intimidar uma mulher e eles não conseguem entender o que é a violência de gênero”, disse a advogada.

A campanha foi elaborada com base na pesquisa realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e o Instituto Locomotiva, sobre Segurança das mulheres no transporte (2019). De acordo com a pesquisa, 75% das mulheres se sentem seguras usando transporte por aplicativo, mais do que as que se sentem seguras usando táxis (68%) e o triplo das que se sentem seguras no transporte público (26%).  Além disso, 55% responderam que os transportes por aplicativo oferecem facilidades para que as mulheres denunciem os abusadores e que 45% delas acreditam que é o meio pelo qual há maiores chances dos importunadores serem punidos.

Post da campanha

“Foi uma campanha que fizemos com base no que escutamos nos grupos de mulheres, a partir das reclamações e relatos dos acontecidos, mas reconheço que não podemos generalizar em nenhum momento e a intenção não foi criminalizar ou prejudicar uma categoria”, explica Alba Vilanova. 

Devido à repercussão, a Associação dos Motoristas Autônomos para Transporte Privado Individual de Passageiros no Estado do Piauí (Amatepi) procurou a OAB para dialogar sobre a campanha. 

 “Eles me procuraram falando da repercussão da postagem, pediram pra a gente explicar melhor, fazer uma retificação. A comissão ficou aberta a diálogo e eles entenderam nosso posicionamento. A reunião foi produtiva. Então nós propusemos fazer cursos de capacitação, postagens e campanhas alertando sobre a violência que a categoria sofre, que é uma violência mais urbana do que uma violência de gênero, que as motoristas mulheres também sofrem”, pontuou a advogada. 

Posicionamento da AMATEPI

De acordo com o presidente da Amatepi, João Francisco Martins, a associação apenas criticou o foco da campanha. “A OAB teve a melhor das intenções. A observação que fizemos foi a respeito da ênfase dada aos transportes por aplicativo na campanha. Na verdade, a pesquisa que inspirou a campanha diz que nos carros de aplicativos é onde as mulheres se sentem mais seguras em relação aos transportes públicos e os táxis”, esclareceu ou presidente da associação.

Sobre os ataques sofridos pela advogada Alba Vilanova, Martins também se manifestou.  “Embora os ataques tenham partido de motoristas do Sul do país, e que não estão relacionados conosco, esse tipo de atitude é algo que não aprovamos. Saímos das nossas casas e paramos nosso trabalho para ir à OAB dialogar. A associação tem um histórico de buscar a conversa em primeiro lugar.”

Martins também reforçou que mesmo os números de violência contra a mulher nos transportes por aplicativo sendo baixos, reconhece que a violência também é parte da realidade e que associação está se articulando com a OAB para que sejam realizados cursos e oficinas voltadas para qualidade do trabalho, qualidade de vida e segurança dos (as) motoristas e passageiros(as). “Quando passageiras (os) relatam algum caso de assédio, nós orientamos como devem reportar para o aplicativo e como proceder. Entretanto os aplicativos já não têm um mesmo sistema de proteção em relação ao (à) motorista, que também está vulnerável a muitas violências”, finaliza. 

 

Por Samira Ramalho/Cidadeverde

 

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