Na CPI do BNDES, Flávio Nogueira afaga Eike Batista e o compara a Barão de Mauá

“Senhor Eike [Batista], é um prazer. Quero dizer que sempre tivemos uma admiração muito grande pelo senhor”

Por Rômulo Rocha – Do Blog Bastidores

– Eike Batista foi condenado a 30 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Recorre da decisão em liberdade

– Como é o mundo que ninguém vê: Flávio Nogueira perguntou se mesmo Eike tendo dado muito dinheiro para políticos, não apareceu ninguém para ajudar.

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_Eike Batista durante depoimento à CPI do BNDES (Imagem: Reprodução)
_Eike Batista durante depoimento à CPI do BNDES (Imagem: Reprodução) 

TIETAGEM

O deputado federal Flávio Nogueira foi só afagos durante depoimento do ex-mega bilionário Eike Batista – que chegou a ser o homem mais rico do país – durante depoimento do empresário à CPI que trata de práticas ilícitas no âmbito do BNDES, na Câmara dos Deputados. 

A interferência do parlamentar piauiense se resumiu a comparar Eike Batista a Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, um dos brasileiros mais ricos de todos os tempos e que contribuiu para a industrialização do Brasil, mas que veio a quebrar posteriormente e depois teve um levante patrimonial.  

O deputado chegou a indagar também se os investimentos do empresário findaram no estado do Piauí. No que Eike respondeu que está “cultivando 10 novos unicórnios” em seus negócios particulares. 

O termo unicórnio é o nome dado a startups cujo valor de mercado ultrapassa à cifra de 1 bilhão de dólares. 

CONDENADO EM PRIMEIRA INSTÂNCIA

Há pouco mais de um ano, em julho de 2018, Eike Batista foi condenado à pena máxima de 30 anos de prisão, por supostamente pagar propina de R$ 52 milhões ao então governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral – preso no âmbito da Lava Jato – para ser beneficiado no governo do político. 

O juiz da causa é Marcelo Bretas, que condenou Eike Batista por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A defesa do empresário recorreu da sentença.

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_Deputado Flávio Nogueira, ao questionar Eike Batista (Imagem: Reprodução)
_Deputado Flávio Nogueira, ao questionar Eike Batista (Imagem: Reprodução) 

O BATE-PAPO na CPI do BNDES

Flávio Nogueira: Senhor Eike, é um prazer. Quero dizer que sempre tivemos uma admiração muito grande, aliás, quase o Brasil tinha pelo senhor uma admiração pelo empresário que simbolizava o empresário brasileiro e por conta disso muitas pessoas investiram aí em suas letras. Aliás o Brasil sempre teve essas pessoas assim de cinquenta em cinquenta anos, começando lá por Barão de Mauá. Aliás a vida dele é um pouco parecida com a tua. 

Eike Batista: Sim, bastante. 

Flávio Nogueira: … Construindo ferrovias, iluminação, e tinha inclusive um ativo maior do que o orçamento do império em determinado ano e quebrou como o senhor.

Eike Batista: Perfeito!

Flávio Nogueira: … alegando que o Banco do Brasil lhe negava empréstimos. Ele que tinha criado o Banco no Brasil no início e depois formou seu banco Mauá e quebrou. Ali na década de 50 apareceu [Eduardo] Guinle e [Cândido] Gafrée, com o Porto de Santos, etc. 

Eike Batista: Sim, Porto de Santos.

Flávio Nogueira: Embora a história aí seja um pouco diferente, porque entra questão de herdeiro, mas culpa também os bancos e o governo. Agora veio aqui o senhor, fez um relato bom, me parece sincero e que também quebrou. E fica tudo estranho e ninguém entende porque quebrou porque você tinha e trouxe para fora 50 bilhões de dólares. Quer dizer, maior do que vários estados do Brasil.

Eike Batista: Posso explicar. 

Flávio Nogueira: Não, deixa eu só..

Eike Batista: Ok.

Flávio Nogueira: Acredito que ninguém gostaria de vê esse grupo empresarial quebrar. Até porque no meu estado, o Piauí, se acreditou muito na sua empresa mineradora MMX, na extração do minério de ferro, no sul do estado, em São Raimundo Nonato, Avelino Lopes, a região de Paulistana, Curral Novo. O senhor inclusive chegou a ir lá, segundo relatos que tenho aqui. Afinal de contas, o que foi que quebrou mesmo o senhor? Foi o banco, foi o governo, ou foi doações de campanha? 

Eike Batista: Ok, como eu mostrei aqui na…

Flávio Nogueira: Embora o senhor já explicou doação de campanha. Só para…

Eike Batista: Nas seis empresas licitadas, a maior delas era a empresa de petróleo, onde 100% de recursos eram de investidores estrangeiros, meu, eu tinha muito dinheiro dentro dela. Eu tinha 60 e tantos por cento da companhia. Para mim é raro em uma empresa de petróleo alguém ficar com uma participação tão grande. Mas como a gente acreditava, porque os geólogos diziam que tudo era fantástico… Enfim, não foi. É, quando uma empresa num conglomerado desse quebra e perde a confiança, você começa a perder valor dessas empresas, apesar delas terem lastros extraordinários. Não é, portos, geradores de energia… Então que que é a visão que eu fiz e me orgulho? A a seguinte. É você rapidamente chamar novos sócios para você continuar esses projetos. Vossas excelências, todos sabem que, projetos de vários bilhões, para você retomar é melhor começar do zero. Então eu vendi esses ativos literalmente a 10 centavos no real. A 90% mais barato, porque eu precisava de captar o recurso para continuar injetando nelas [empresas] e elas absorverem as dívidas com o BNDES. Então a cascata da queda é essa. Uma derruba cinco. É um efeito dominó. E foi uma falha estratégica minha de ter cinco empresas licitadas. E meio que assim, poxa, será que uma delas vai quebrar? Você acha que não, não é. A minha expectativa no Petróleo. E, na verdade, hoje está confirmado. O pré-sal é um show. Então quando eu falo que me tiraram o pré-sal, sim, quinze dias antes me tiraram os blocos do pré-sal. Eu tinha dinheiro para furar esses blocos.

Flávio Nogueira: Quem lhe tirou? Qual governo?

Eike Batista: O governo, quinze dias antes, sabendo que a gente ia para o leilão. Sabiam que a gente ia ganhar um desses blocos, nos campos de Lula. Só que hoje entregaram para os estrangeiros. Tudo bem. É a vida. Aconteceu. Comigo foi assim. Como eu disse antes. Eu vou repetir, o sinal que…

Flávio Nogueira: Saiu 15 dias antes da licitação?

Eike Batista: Tiraram, tiraram da licitação. Ai eu entrei no leilão com 1 bilhão de dólares para me dá e a gente acabou comprando blocos do pós-sal. Então imagina, você, 15 dias antes ter que reestruturar todo… pegar áreas na bacia de Campos, que a gente achava que era a bacia mais prolífera do Brasil, 85% do petróleo do Brasil vinha dali, não é. Por que nos meus blocos também não teriam petróleo? Na pujança do pré-sal, que realmente o pré-sal surpreendeu até a Petrobras. Se os senhores pegarem dados anteriores, a previsão é que os poços do pré-sal iam produzir 10 mil barris. Hoje a média é quase 40 mil barris. Como eu já disse tem poços com 60 mil barris. E assim é um espetáculo. Então, triste. Taí. Essa é minha história. Então o que eu fiz é o seguinte, eu não iria conseguir preservar os empregos se eu não tivesse tomado a decisão de vender meus ativos baratos. Essa decisão dói, mas alguém tem que tomar. E caramba. Todo mundo é contra mim. A mídia é contra mim. Eu não tenho apoio nenhum no governo. Não tenho, não é. BNDES para mim: ‘pô, Eike, vende logo suas companhias’. Na verdade, para o BNDES, sabia que os bancos privados tinham garantia…

Flávio Nogueira: Mas o senhor falou que doou para todos os partidos…

Eike Batista: Sim, a gente fazia isso. Eu fazia isso tooodas as eleições. Eu lhe mando…

Flávio Nogueira: Eu sei. Eu não estou duvidando. Mesmo nessa hora não chegou alguém para [ajudar]?

Eike Batista: Não, não. Vamos lá. Na escala dos meus negócios, o que eu contribuí é ridículo, comparando o que foi feito pelos outros. Essa comparação eu acho que é muito importante. A proporção do meu tamanho e a minha contribuição em relação aos outros que realmente participaram dessa festa, aí mostra claramente a minha atitude: ‘Eu acredito na democracia. Vou ajudar. Meus amigos americanos fazem assim nos Estados Unidos. Vamos fazer isso, porque isso está ok. Se eu sou um animal diferente, excelência, eu fui um animal diferente. Me desculpe. 

Flávio Nogueira: Quer dizer que parou mesmo no Piauí. Não vai ter mais exploração de ferro, não?

Eike Batista: Estou cultivando 10 novos unicórnios. Me esperem. 

 

Fonte: 180graus

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