Irmã Dulce é canonizada e se torna primeira santa brasileira

Irmã Dulce já é santa. Às 5h33 do Brasil, o Papa Francisco leu, no Vaticano, a fórmula da canonização que transforma a baiana na primeira santa brasileira. Em Salvador, no Santuário dedicado à religiosa, na Cidade Baixa, fiéis em vigília desde ontem celebraram o momento. A partir de agora, ela passa a ser conhecida como Santa Dulce dos Pobres. 

A cerimônia de canonização aconteceu na manhã deste domingo (13) na Praça de São Pedro, no Vaticano, com presença de milhares de fiéis. No ritual, foi celebrada pelo Papa uma missa, que começou às 5h10 (horário de Brasília).

Uma liturgia específica para canonizações aconteceu na cerimônia, que começou com cantos iniciais e a saudação do Papa. Logo depois, o cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, fez o pedido formal ao Papa para que Irmã Dulce e outros quatro beatos fossem considerados santos.

O cardeal Becciu leu então uma curta biografia de cada beato. Depois, o pontífice os declarou santos – Irmã Dulce foi o quarto dos cinco nomes a ser proferido. 

Além da baiana, também foram canonizados o britânico John Henry Newman (1801-1890), a italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a suíça Marguerite Bays (1876 -1926). 

Conhecida como Anjo Bom da Bahia, Irmã Dulce foi uma religiosa com trajetória fortemente marcada pelo trabalho social.

Do Barbalho ao Vaticano
Segunda filha do dentista Augusto Lopes Pontes, professor da Faculdade de Odontologia da Ufba, e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, Maria Rita aprendeu a admirar o futebol (era torcedora do Esporte Clube Ypiranga) nas idas dominicais ao campo da Graça.

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Não foi unanimidade. Incomodou a própria Igreja Católica – desde os anos 1930 quando fundou o Centro Operário da Bahia (COB), com a ajuda de operários e do frei alemão Hildebrando Kruthaup – para criar as bases da maior rede de assistência gratuita do Brasil.

(Foto: Divulgação/Osid)

Suas obras começaram quando ela invadiu um galinheiro do Convento Santo Antônio, em 1949, e hoje atende 3,5 milhões de pessoas por ano, gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foi, por dez anos, abandonada pelas irmãs da sua congregação religiosa que temiam o endividamento provocado por Dulce para erguer sua obra.

Na sua missão, atuou como porteira, técnica de raio x, professora, cuidadora de idosos… Fez de tudo para aplacar a dor de seus doentes. Nos momentos em que precisava ser ouvida, mas a saúde não permitia, pegava um pequeno apito amarelo para pedir silêncio.

“Isso acontecia quando tinham muitas crianças do Centro Educacional Santo Antônio apertando a mente dela. Ela era uma santa, mas também era muito rígida quando precisava” , recorda Valquíria Cardoso, técnica em enfermagem, que cuidou de Dulce até o dia da sua morte. Pelas mãos de Valquíria, tomava colheradas de Coca-Cola e comia quiabada.

Irmã Dulce em 1922, na primeira comunhão (Foto: Divulgação/Osid)

Por onde passou e seus olhos tocaram, Dulce inspirou pessoas na caridade. Foi o que fez, por exemplo, com a hoje freira Josefa Andrade do Nascimento. “Eu decidi ser feira graças a ela. Eu assisti o programa Caso Verdade da TV Globo [1982] que passou a semana contando a história dela. Vi que ali era um exemplo a ser seguido. Depois assisti uma palestra dela no convento e tive, naquele momento, a certeza que queria ser freira como ela”, conta a religiosa que atualmente vive em um convento em Itabaiana, em Sergipe.

 

*Jorge Gauthier é chefe de reportagem do CORREIO e está em Roma para fazer a cobertura da canonização de Irmã Dulce

Fonte: Correio 24h

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