Memória e orgulho: Há 70 anos, piauiense presenteia amigos com poema de autor desconhecido sobre o estado

Fenelon Castelo Branco Neto, de 94 anos, é piauiense radicado em Pernambuco e recebeu poema de autor desconhecido sobre o Piauí há 70 anos. “Virou um tesouro, que mandava para os meus íntimos, para as pessoas do meu coração”.

O aposentado e dentista aposentado Fenelon Castelo Branco Neto, de 93 anos, lembra com detalhes da tarde remota, em 1951, em que ouviu um longo poema que relatava as riquezas do Piauí. Nascido em José de Freitas, Fenelon viveu maior parte da vida em Recife, no estado de Pernambuco, e por anos deu aos amigos mais próximos cópias do poema, como se os presenteasse com um pedacinho da terra natal.

“Eu distribuí somente com os amigos. Quando chegava o aniversário de um amigo, achava que o presente melhor que eu devia dar era aquelo soneto. Virou um tesouro, que mandava para os meus íntimos, para as pessoas do meu coração”, contou.

Fenelon se formou em odontologia em dezembro de 1950, na Universidade Federal de Pernambuco. Com o diploma nas mãos, voltou ao Piauí no ano seguinte para passar férias e rever a família. Na época, Teresina se preparava para completar 100 anos, e José de Freitas ainda se chamava Livramento.

Fenelon passava uns dias na fazenda Malhada Comprida, em José de Freitas, quando recebeu a visita do dono da fazenda vizinha, o coronel Quincas Sampaio.

Fenelon voltou ao Piauí após se formar em Recife — Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Castelo Branco

Fenelon voltou ao Piauí após se formar em Recife — Foto: Arquivo Pessoal/Fábio Castelo Branco

O coronel disse a Fenelon que “entendia muito pouco das letras”, e queria aproveitar que ele estava ali para presenteá-lo com um poema que havia sido declamado para ele anos antes, e que sabia de cor. Fenelon pegou um caderno, e anotou enquanto o coronel falava.

O poema Corologia do Piauí tem 39 estrofes, que se estendem por mais de dez páginas, com dezenas de nomes familiares aos piauienses: são listas de cidades, rios, frutas, peixes, aves, insetos… relata a produção agrícola da época, a culinária e os costumes, como a farinhada e os festejos.

“O interessante é que foi decorado. Ele fez um recital, saído da cabeça dele, sem saber quem é o autor. Como ele não tinha preparo, dizia os nomes com muitos erros. Mas dizia e não podia parar, porque ele se perderia. Caminhava de um lado para outro, recitando. E eu copiava nos garranchos, tinha que ser rápido para colocar na tinta e papel”, lembrou Fenelon.

O autor do texto, segundo recorda o aposentado, teria sido um homem idoso, que o declamou para o coronel. Até o momento, é desconhecido, e não se sabe há quanto tempo foi feito.

Antiga fazenda da família de Fenelon, em José de Freitas — Foto: Rafael Reis/ Luciano Klaus

Antiga fazenda da família de Fenelon, em José de Freitas — Foto: Rafael Reis/ Luciano Klaus

De volta ao Recife, ainda em 1951, ele procurou dois amigos, um biólogo e uma veterinária, e juntos eles confirmaram a existência e a grafia correta de cada termo citado pelo coronel Quincas.

A partir daí, o poema se tornou um tesouro para Fenelon, uma forma de levar um pedaço do Piauí para os amigos, mostrar o orgulho e a saudade que sente da terra natal.

“Pode ser que alguém não queira, e diga ‘que presente besta esse!’. Mas no meu coração bate diferente. É muito lindo aquilo ali. Ninguém pense que minha ausência de José de Freitas e do Piauí me fez esquecer. Eu lembro de tudo, tudo”, declarou.

Fonte: Por Andrê Nascimento, g1 PI

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